Carta da Dra. Tony López no período do Coronavírus

O mundo está passando por uma mudança, provocada por um hóspede indesejado. Sua visita nos está desestabilizando a todos e nos deixando mais vulneráveis. Há algumas semanas os nascidos na Europa, como é o meu caso, ou quem por algum motivo lá se encontra ou mesmo quem viaja pelo mundo começou a ouvir falar de um vírus na China. Mas poucos pensavam que ele aterrissaria no velho continente. No entanto, ele chegou e entrou de uma maneira virulenta, do mesmo modo que vi um dia o bacilo de Hansen se infiltrar neste canto da Amazônia onde trabalho em um Barco Hospital, visitando dezenas e mais dezenas de comunidades ribeirinhas e indígenas. Daí que entendo muito bem o que está acontecendo na Europa. Aqui já muitas vezes perdemos o equilíbrio, sobretudo quando temos Chagas, Hansen, Jorge Lobo, Hepatite Negra o Dengue. Nos entristece profundamente saber que a Europa e outras partes do mundo menos mediatizadas também estão passando por isso. Tudo isso obriga-nos a todos a sermos responsáveis em tomar todas as medidas sanitárias que sejam necessárias para vencer este vírus, como por exemplo, o isolamento. O isolamento não é só um período de reflexão, mas uma recomendação explícita, um ato coletivo de responsabilidade contra um vírus pandêmico, para que possa ser controlado.

Como sanitarista em áreas endêmicas, posso assegurar-lhes que esta situação vai passar se cada um de nós fizer a sua parte, pois este vírus veio para ficar momentaneamente. É essencial não perder de vista as consequências que cada um de nós enfrentaria se não seguisse a recomendação de estar em casa e, assim, evitar o contágio de nossos comunicantes. Todos nós que trabalhamos na área da saúde e que convivemos com vírus diariamente, sabemos que depois de muita luta e responsabilidade é possível derrotá-lo. Mesmo assim, devemos reconhecer que este vírus entrou na Europa com grande virulência. Daí a importância do isolamento. Na nossa área endêmica, por exemplo, pedimos aos pacientes que se isolassem do bacilo de Hansen (hanseníase), não no sentido físico, mas com a disciplina horária da injeção de medicamentos e a higiene como norma para mudanças comportamentais juntamente com a dieta como fator de suporte do sistema imune, e, sobretudo, alertando as pessoas assintomáticas para fazerem, de tempos em tempo, um controle. Todas estas recomendações nos ajudaram a fazer diagnósticos precoces nos estágios iniciais da doença e assim, a evitar amputações.

Neste momento, portanto, isolar-se torna-se a práxis terapêutica essencial para esta pandemia. Mesmo que esta recomendação seja drástica, ela oferece uma ação eficaz num curto período de tempo para conter possíveis novas infecções. O tempo é um valor que todos nós podemos usar positivamente em nossas casas para fazer tantas coisas que não tínhamos podido fazer por falta de tempo. Alguns pensam que será uma overdose de tempo. Mas vamos pensar positivo. Pela minha experiência profissional em áreas endêmicas sempre temos conseguido superar momentos difíceis quando todos juntos, profissionais da saúde e população em geral, focamos nosso objetivo no combate ao sofrimento humano.

Dra. Antonia López González (Tony)

Especialista em enfermidades tropicais. ACI-ESADTE. Amazonas, Brasil

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