O decréscimo dessa pandemia

A recomendação é fazê-lo de forma progressiva e assimétrica, adotando ações que considerem os seguintes requisitos: que a transmissão esteja sob controle, que os sistemas de saúde tenham capacidade para tratar e rastrear contatos, que os riscos de surtos em centros de idosos ou instalações hospitalares sejam monitorados, que sejam cumpridas medidas preventivas nos locais de trabalho, de transportes e escolas; e que todos nós, como sociedade, nos comprometamos a respeitar a higiene, o distanciamento social ou outros padrões sugeridos. Bem, estou convencida de que todos nos recusamos a viver em quarentena permanente.

Precisamos nos adaptar a essa nova fase e, para isso, precisaremos de tempo, um tempo que nos foi dado durante o confinamento. Como dizia a música de Mercedes Sosa, na vida todas as coisas mudam, mudaram no passado e mudarão amanhã, o importante é que pensamos que essas mudanças ajudem a todos igualmente. E isso exigirá, em princípio, continuar com a medida orientadora do distanciamento social para evitar a transmissão. Parece claro, a partir dos dados objetivos que conhecemos atualmente, que esta doença é multifatorial e que uma redução eficaz deve levar isso em consideração. É óbvio que o objetivo a salvaguardar é a saúde e, para isso, é necessário realizar testes sorológicos maciços para assim obtermos um quadro global da imunidade real e fortalecermos permanentemente as infraestruturas de saúde, além de garantirmos todas as medidas de proteção ao pessoal sócio-sanitário que as compõe. Esse sonho de saúde para todos em qualquer parte do mundo não é um experimento, está relacionado ao que todos nós queremos como sociedade de bem-estar, pois, como disse Cyrulnik, a saúde é o antídoto para saber se uma sociedade é igual para todos.

O professor Doherty, imunologista, fala de um longo caminho a ser percorrido, pois ainda se trabalha com informações técnicas parcialmente conhecidas ou totalmente desconhecidas, embora se tenha uma ideia clara sobre a busca de uma imunidade global contra o COVID 19; mas até alcançá-la, devemos conviver com as indecisões a respeito de se abrir ou não as pequenas empresas, se será possível ir às aulas ou recuperar a sua rotina de medir a pressão arterial em seu centro de saúde; ou, talvez, mais ambicioso, se você poderá comemorar um aniversário com os amigos. Essas situações ainda precisam ser decididas, pois o vírus continua circulando e pode continuar por mais ou menos tempo, dependendo de como cientistas, funcionários do governo e cidadãos coletivamente colaborarem para dar uma resposta real. Em nossa região pan-amazônica, onde vivemos isolados durante muitos anos devido à hanseníase (lepra), e de cujo isolamento conseguimos sair graças à ações bem concretas como a realização de exames dermato-neurológicos de toda a população, o acesso a tratamentos gratuitos e o monitoramento contínuo dos comunicantes.

Esse decréscimo deve ser obtido passo a passo, mas com um certo grau de confiança, já que todos vamos participar da mesma maratona, mesmo quando o ritmo for desigual, dependendo do km de decréscimo em que estamos, pois todos queremos sair às ruas mais saudáveis e melhor preparados. Às vezes, nós humanos subestimamos nossa própria resiliência, e essa experiência deve ter-nos ensinado que a saúde depende em grande parte da equação resultante de medidas preventivas e da consolidação de um sistema de saúde pública fortalecido, capaz de ser um pouco mais INDESTRUTÍVEL frente a vírus, bactérias, fungos ou parasitas. Quando você trabalha em uma área endêmica de alta vulnerabilidade ou baixo índice de desenvolvimento humano, você se converte em uma pessoa muito normal, que não desiste, nem se rende. Eu aprendi isso com pessoas que sofreram malária, Jorge Lobo, Puru-Puru, Hansen (lepra). Todas essas pessoas sabem que o mosquito, o bacilo ou o vírus voltarão a cada ano na mesma área, nas mesmas casas, nos mesmos rios, nas mesmas vidas, porque, como dizia o professor Tal Ben-Shachar, essas pessoas praticam, sem saber, a chamada psicologia positivista. Por isso, elas entendem que sua sobrevivência depende de nunca desistir e de serem capazes de avançar no mesmo contexto de dificuldade, mas com uma atitude muito diferente. Nestes dias de intenso trabalho e reuniões, estamos tentando encontrar protocolos de ação a longo prazo entre este COVID-19 e as chamadas doenças tropicais esquecidas; e refletindo em grupo, pensamos que tudo isso que estamos experimentando deve ser um exercício de confiança em relação à ciência como uma matéria de conhecimento global e de que é preciso apelar ao sentido ético da ciência para reivindicar a saúde como um direito fundamental e não como um privilégio em função de onde você nasceu.

Antonia López González, Especialista em doenças tropicais. ACI-ESADTE. Amazônia, Brasil.

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