“Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim?

Padre Juan Diego comentando o Evangelho

XXIV DOMINGO COMUM – MATEUS 18, 21-35

Uma pergunta: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18,21). Esta pergunta expressa a possibilidade do conflito nas relações com os outros, mas também a possível resposta a esta realidade, ou seja, o rancor e a raiva que destroem o coração. “O rancor e a raiva são coisas detestáveis, até o pecador procura dominá-los” (Eclo 27, 33), ou… existe outro caminho que também aparece no coração do homem e que expressa a sua capacidade de amar, que às vezes está escondida, mas que reclama por agir de um modo diverso? É possível perdoar? E se possível, tem um limite? Uma resposta: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 22). A uma pergunta quantitativa, Jesus dá uma resposta qualitativa, ou seja, perdoar sempre. É possível um caminho que expresse uma autêntica maturidade cristã?

À luz do Evangelho proponho a dinâmica do perdão como tríplice memória:

Memória ferida

“Quando começou o acerto, trouxeram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna” – “Ao sair dali, aquele empregado encontrou um dos seus companheiros que lhe devia apenas cem moedas” (18, 24.28).  Se falamos do perdão é porque existe uma realidade a ser perdoada, perdoar não significa dizer “não passou nada”. Ante uma ofensa, temos experimentado muitos sentimentos que nos põem em contradição com nós mesmos. O que fazer? Alimentar sentimentos ruins, fazendo com que a falta do outro tome conta da nossa vida? Jesus nos propõe o perdão. Mas, como?

Memória sarada:

“O empregado, porém, caiu aos pés do patrão, e, prostrado, suplicava: ‘Dá-me um prazo! E eu te pagarei tudo’. Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida”. Quem de nós não têm pecado? Quem de nós têm sido rejeitado por Deus, quando nos aproximamos dele com um coração contrito? Pecamos e somos perdoados! E é esta experiência que põe em evidência a capacidade transformadora do Amor, que opta por salvar a pessoa antes do que perdê-la. Só o Amor conhece de perdão. Quanta beleza temos experimentado quando recebemos o perdão de Deus e daqueles que conhecem o Amor. Quantos de nós graças ao perdão temos elevado a nossa vida, porque o Amor tem desvelado a beleza que há no nosso coração.

Memória que perdoa

  1. “Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias tu também, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?” (Mt 18, 32-33) – “Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura? Se não tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus pecados?” (Eclo 28, 3-4). O perdão é memória, atualização, fazer presente o perdão de Deus que tenho recebido; só pode perdoar quem se reconhece perdoado, quem sabe que o perdão é sempre um dom, um presente, não algo que eu mereço, porque o perdão de Deus não é proporcional a minha falta, mas está em total identificação com o seu amor. Não podemos pedir o máximo do perdão (“lhe devia uma enorme fortuna” v. 24), em quanto não somos capazes de perdoar o mínimo (“lhe devia apenas cem moedas” v.28). 

Perdoar não é fácil, é uma graça que tem a iniciativa em Deus mesmo; é um dom que só pode oferecer quem se reconhece perdoado e quer transmitir esta mesma experiência àqueles que lhes têm ofendido. Senhor, porque nos tens perdoado, nós perdoamos. Sempre que alguém perdoa põe em evidência o Amor de Deus, o único que faz possível este milagre.

JUAN DIEGO ARISTIZÁBAL, PSS Sacerdote da Companhia dos Padres de São Sulpício (Sulpicianos). Bacharel em Filosofia e Teólogo pela Universidade Pontifícia Bolivariana, Medellín. Mestre em Teologia Dogmática com ênfase em Antropologia teológica pela Universidade Pontifícia Gregoriana. Doutorando em teologia dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma.

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