Refletiremos esta semana a partir do texto de Mc. 1, 29-31, conhecido como a cura da sogra de Pedro. É um texto que fala de doença, de cura e de serviço. Está inserido dentro de um bloco de textos que falam sobre o ministério de Jesus na Galiléia. Nesse ministério, atenção particular tinha Jesus pelas pessoas consideradas impuras, endemoniadas e doentes. Basta ler o texto anterior a este, Mc. 1, 21-28, quando Jesus está na sinagoga e se depara com “um homem possuído de um espírito impuro” (v. 23).
Jesus tinha predileção por essas pessoas porque o estado em que elas se encontravam gerava automaticamente uma exclusão social. Uma pessoa impura poderia tornar impura uma pessoa pura. Deveria evitar circular no meio do povo e ser tocada. Jesus sempre esteve preocupado com a situação de exclusão de seu tempo e desejava quebrar isso. Por isso, teve compaixão e se aproximou de quem sofria.
No texto de hoje Jesus, ao sair da sinagoga, foi à casa de Simão Pedro, juntamente com Tiago e João. Ali estava a sogra de Simão, doente. O texto diz que ela estava com febre. Jesus, se aproximou, tocou na mulher e ela começou a andar. Ou seja, o que estava lhe impedindo de andar, a febre (doença), passou e ela pôs a servi-los.
Um primeiro gesto que chama à atenção é a forma como Jesus curava. Ele se aproximava e tocava a pessoa. Vai contra todas as determinações de sua época sobre a não aproximação de uma pessoa impura. E, com isso, restituiu à pessoa a saúde. Aqui poderíamos refletir bastante sobre as curas de Jesus, como Jesus curava. Mas será uma reflexão para outra oportunidade. Neste momento, vamos ficar atentos ao gesto de solidariedade e cuidado de Jesus para com aquela mulher. Um segundo elemento é o que faz a mulher ao ser curada, ou seja, ela começa a servir os presentes. Torna-se uma diaconisa! É a gratidão, o compromisso gerado a partir da cura.
Quantos ensinamentos este texto nos traz diante do momento de pandemia do novo coronavírus. Embora Jesus, à sua época, tenha tocado as pessoas impuras para curá-las, hoje somos chamados/as a adotar um distanciamento físico, a fim de não corrermos o risco de fazer circular o vírus. Quem está com suspeita ou testou positivo para COVID-19, é convidado/a ficar de quarentena, a fim de ser curado/a e não transmitir o vírus para outras pessoas.
Embora não possamos tocar as pessoas, como fez Jesus, porque estamos numa outra época e o texto bíblico deve ser contextualizado, podemos cuidar das pessoas de outras formas, contribuir para que elas sejam curadas, encontrar maneiras adequadas de servi-las, a fim de que todos/as possam enfrentar esse momento da melhor forma e atravessá-lo com o mínimo de perdas. As tecnologias são instrumentos importantes hoje para estarmos próximo das pessoas. Por isso, dizemos que estamos num momento de distanciamento físico e não isolamento social, porque as tecnologias nos favorecem outras formas de relação.
Para quem está em casa com familiares doentes, seja de COVID-19 ou outra doença, ou mesmo sem familiares doentes, este é um momento para exercer a solidariedade e o cuidado com quem precisa de nós. Pra quem esteve ou está doente, que sentiu ou sente a dor do corpo padecido, importante transformar essa dor em serviço, em solidariedade, em aproximação e compaixão, para criar laços de afeto e de cuidado numa sociedade tão doente como a nossa que, mesmo antes da pandemia, já sofria por tantas doenças, sejam elas as que atacam o corpo, especialmente das pessoas empobrecidas, mas também doenças que atacam a dignidade da pessoa humana, negando-a de seus direitos básicos.
Outra realidade que devemos ter cuidado é a seguinte: a pessoa curada no texto é uma mulher. O fato de passar a servir os presentes revela gratidão, mas também revela o contexto da época, em que as mulheres eram relegadas ao serviço doméstico. Apesar de avanços, hoje, inúmeras mulheres ainda são relegadas aos afazeres domésticos. Neste momento em que todos/as somos orientados/as a permanecer em casa, muitas mulheres estão sobrecarregadas com as tarefas domésticas, o cuidado com os doentes e outros serviços e, não raro, sofrendo violência doméstica. A casa deve ser lugar de cura, de solidariedade, de ajuda mútua, e não lugar de exploração ou violência. É um chamado também aos homens para que assumam as tarefas domésticas junto às mulheres. Sejam, de fato, companheiros!
Ao final desta reflexão, propomos a você os seguintes compromissos:
1º Procure se aproximar, ou aproximar-se mais, de uma pessoa doente. Seja fisicamente ou de outras formas, a depender da situação. Transmita a essa pessoa palavras de ânimo, de coragem, de força. Reze por ela, demonstre atenção, diga que Deus está ao seu lado, mesmo diante da dor. Essas atitudes, com toda certeza, ajudarão às pessoas a levantarem-se, a caminharem e a servirem.
2º Se você é homem, assuma uma atitude de cuidado com a casa e com as pessoas que convivem com você. Dessa forma, estaremos construindo uma humanidade sadia e com mais vida, segundo o coração de Deus.