A solenidade dos apóstolos: são Pedro e são Paulo, celebrada na liturgia deste final de semana nos ajuda a pensar a identidade da nossa fé. Quando professamos o Credo, dizemos: “Creio na Igreja”. Esta expressão não só diz que acreditamos que a Igreja é a primeira obra do Espírito Santo, mas também que acreditamos “eclesialmente”, quer dizer que a nossa fé, a minha fé é a fé da Igreja. Assim, eu creio no seio da Igreja, isto é, o conteúdo da minha fé recebo-o da Igreja.
Então, como a solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo nos ajuda na identidade da nossa fé eclesial?
1. A nossa fé é Apostólica: A Igreja acredita o que acreditaram os Apóstolos, aliás, a Igreja prega, vive e celebra o que os Apóstolos pregaram, viveram e celebraram. “Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente e ouvida por todas as nações” (2T 4,17). Justamente por causa disto eles sofreram a perseguição: “o rei Herodes prendeu alguns membros da Igreja para torturá-los… mandou prender também a Pedro” (At 11,1.3). A pregação do Evangelho implica também o martírio, que em Pedro e Paulo se converteu no máximo testemunho da sua fé, na força que fez com que o Evangelho chegasse até nós.
Nossa pregação hoje é a mesma dos Apóstolos (não se trata de “novidade” mas de autenticidade que vem das origens. O que é novo nem sempre é autêntico, original, genuíno).
2. A nossa fé é Cristocéntrica: À pergunta de Jesus “E vós quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15), Pedro responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16).
Assim, a profissão de fé de Pedro é a mesma da Igreja. A Igreja professa que Jesus é o Messias, o Filho de Deus e por isso, só Ele é o Salvador, só Ele nos pode libertar do desamor. Não se pode ser cristão sem Cristo. Se Cristo não está presente, como nos chamar “cristãos”? Às vezes temos tantas práticas, atos de piedade, crenças… Mas, Cristo não está presente… Que falácia: um cristão sem Jesus Cristo!
Sim! Cristo professado em nossa vida, em nossos sentimentos, em nossas atitudes. Não é o Jesus Cristo metafísico, ideia. É o Cristo que Pedro e Paulo conheceram, amaram, seguiram, acreditaram e nos transmitiram: “Por primeiro, eu lhes transmiti aquilo que eu mesmo recebi, isto é: Cristo morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras; ele foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; apareceu a Pedro e depois aos Doze. (1Cor 15, 3-5). É o Cristo “por” nós. A sua vida é a nossa vida, a sua Páscoa é a nossa.
A nossa Igreja está intimamente unida a Cristo, Ele é a sua vida, a sua fonte. A Igreja depende totalmente d’Ele. Ele é a origem da Igreja, a sustenta, a alimenta, a vivifica. De tal modo que a presença da Igreja no mundo e na história deve ser uma contínua profissão de fé, um dizer, viver e celebrar que Jesus é “o Messias, o Filho do Deus vivo”.
3. A nossa fé é una: Pensamos na unidade da nossa fé. E na Igreja existe alguém que tem como missão, como tarefa, como ministério “manter na unidade da fé os membros do corpo de Cristo”: o Papa, cujo ministério é o serviço da unidade: “tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18).
O Papa existe para ser garantia da unidade da fé da Igreja, a fim de que esta sempre professe, viva e celebre, como já dissemos, o que professaram, viveram e celebraram os Apóstolos. Não seguimos um homem, mas abraçamos na fé um homem que foi dotado dum carisma, dum ministério; “não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” (Mt 16, 17). A fé professada por Pedro (cujo ministério se prolonga no Papa) faz com que este seja “pedra”, não por aquilo que ele é como pessoa, mas por aquilo que ele professou: a fé em Cristo.
*A propósito duas anotações: A expressão “Eu te darei as chaves do reino dos céus” (Mt 16, 19), equivale à entrega da administração suprema, como o primeiro responsável, (Cfr. Is 22,19-22). Por outra parte os termos “ligar/desligar” (Mt 16,19) significava entre os judeus da época a potestade para interpretar a lei de Moises com autoridade.
Assim, não é suficiente aplaudir o Papa ou gritar o seu nome. Muitos aplaudem o Papa, mas não se unem à fé que ele anuncia. Muitos só enxergam nele uma máxima autoridade, mas não o sinal da unidade da nossa fé. De fato, hoje é um dia para rezar pelo ministério do Papa, a fim de que nos confirme na fé, que seja sustentado por Jesus na tarefa de anunciar a Boa Nova. Mas também, para agradecer a Deus pelo dom do Papa Francisco, quem com as suas palavras profundas, simples e sinceras nos anuncia o mistério de Cristo; porque com a sua transparência e simplicidade nos faz próximo o Filho de Deus que se encarnou para nos salvar.
Com a solenidade dos apóstolos são Pedro e são Paulo renovemos hoje nossa fé (Apostólica, Cristocêntrica e Eclesial) em Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo.