A AUSÊNCIA DO AMOR DESUMANIZA E CONDENA.

Padre Juan Diego comentando o Evangelho

VI DOMINGO DO TEMPO COMUM – MARCOS 1, 40-45

   1.  A exclusão que desumaniza e condena: a situação social, religiosa e psicológica de um leproso era tal que poderíamos dizer que era um “vivente morto”. Não podia viver uma vida social aberta, devia morar fora da cidade e se por acaso passava perto de alguém, tinha que gritar “impuro, impuro!”, unido ao barulho de um sino. Se pensava que a sua doença fosse consequência do pecado e memória permanente do castigo. Como impuro não podia participar do culto no templo e se, alguém o tocasse, ficava também impuro (cf. Lv13,44-46). Imaginemos o sofrimento interior de alguém para quem se diz: “tu não contas, tu és impuro, tu não podes ter comunhão com Deus… tu não és amado!”.  Esta situação do leproso nos introduz no que significa a exclusão que ignora a dignidade e a beleza do outro, mas também põe em evidência que quem exclui não conhece a verdadeira realidade do Amor. A ausência do Amor mata. A lepra nos fala do que acontece na experiência do pecado que fere a nossa comunhão com os outros, a nossa comunhão com Deus e a comunhão consigo mesmo. De fato, o maior pecado é rejeitar o Amor. Talvez é esta situação de sofrimento que infunde coragem a este “leproso” para aproximar-se de Jesus, ajoelhar-se e falar-lhe (cf. v.40).

   2. O Amor que humaniza e salva: “Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: ‘Se queres tens o poder de curar-me’” (v. 40). Em Jesus, o Amor é tão evidente que só a sua presença suscita uma autêntica transformação interior no leproso. Ele faz aquilo que não poderia ter feito: se aproxima (deveria estar longe), se ajoelha (como reconhecimento a Deus, que não deveria fazer por ser impuro) e fala (deveria gritar “leproso”, “impuro”). E o poder transformador e salvador de Jesus não se faz esperar: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado!’”. Jesus também faz o que não podia fazer. Escutou, tocou e falou como resposta à petição do leproso. A “compaixão” revela as entranhas de Deus, que por ser o Amor, supera as “proibições” e faz próprias as feridas do homem (cf. Is53,4.11; 1Pe2,24). Os gestos de Jesus humanizam o leproso, porque, escutando-o e tocando-o, o reconhece como um homem com dignidade, e curando-o o restitui à sua comunhão com Deus, liberando-o do peso do castigo que carregava segundo a mentalidade da época. Jesus é o mesmo Deus restabelecendo à sua criatura a sua dignidade original de “amado de Deus”. Jesus, o Amor feito carne, tocou a carne do leproso e o salvou. O pecado, como fechamento ao Amor, só pode ser vencido na medida em que nos deixemos “tocar” por Jesus.

   3. O humanizado e salvado que dá testemunho do Amor: Desde o início o leproso é um modelo de testemunha. Paradoxalmente, um “impuro” expressa uma fé amadurecida: “Se queres tens o poder de curar-me” (v.40). Reconhece que o único que pode “curar” é Deus, porque só Ele pode perdoar. Assim, reconhece em Jesus o Salvador. Expõe a Jesus a sua necessidade, mas não se impõe. Não é Jesus que deve entrar na sua vontade, senão que ele, não obstante a sua petição, quer entrar na vontade de Jesus. Clama com confiança e respeita a liberdade de Jesus para agir. Depois da cura, “Jesus o mandou logo embora, falando com firmeza: ‘Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!’” (vv.43-44). Mas ele, na alegria que o Amor gera, “foi e começou a contar e a divulgar muito o fato” (v.45). E dá para entender, pois alguém que tem sido tocado pelo mesmo Amor não pode ficar calado, o Amor é expansivo. Assim, este homem se converte em testemunha, aquele cuja presença e palavra devia ser evitada, agora é sinal de fé para muitos, suscitando um movimento até Jesus: “Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo” (v.45). O rejeitado e excluído agora é testemunha do Amor.

Peçamos ao Senhor que sane a nossa lepra, sobretudo a de rejeitar o Amor, ou pior ainda, a de criar rejeitados e excluídos em nome de uma falsa concepção de Deus que não conhece nada do Amor. Que nós, como cristãos que temos conhecido o Amor, toquemos a carne de Jesus na carne de muitos irmãos, e possamos comunicar-lhes a beleza do Amor que humaniza e salva.

JUAN DIEGO ARISTIZÁBAL, PSS Sacerdote da Companhia dos Padres de São Sulpício (Sulpicianos). Bacharel em Filosofia e Teólogo pela Universidade Pontifícia Bolivariana, Medellín. Mestre em Teologia Dogmática com ênfase em Antropologia teológica pela Universidade Pontifícia Gregoriana. Doutorando em teologia dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma

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